A partir de um certo momento na minha vida, passei a ter um maior interesse de conhecer melhor, de maneira efetiva e afetiva, cada canto do município de Ecoporanga, os distritos, as cachoeiras, os córregos, as montanhas, as tradições culturais e as pessoas, conversar com elas e chamar pelo nome.
Isso se deu quando eu já estava morando em Vitória, acredito que em função da distância, de um olhar de fora interessado, porque nunca foi totalmente de fora, aguçado pelas boas lembranças dos poucos lugares que vivi e frequentei, o Córrego da Boa Vista da Dourada, Joassuba e a própria cidade.
Santa Terezinha, não conta muito neste sentido, porque normalmente era um local de passagem, contudo, não dá para esquecer do acolhimento do senhor França da Farmácia e dona Maria, sempre que precisávamos. Havia outras pessoas, de relação mais estreita com outros familiares meus, como o caso do Elson Lopes, Benício, senhor Flávio, o casal Jair e Deni.
Da casa do Jair e Deni, num quarto de fundos, os meus irmãos Everaldo e Geraldo se serviam para dormir, durante à semana, quando todos os dias se deslocavam de bicicleta num percurso de 13 km para estudar à noite, na escola mais próxima que havia, para atendê-los.
De qualquer forma, eu ouvia falar de outros lugares, por alguns eu passei, em outros até estive, mas sem necessariamente criar algum laço mais forte. Mas a coisa mudou bastante, desde que comprei o meu primeiro carro, no final de 2009. Com isso eu passei a rodar mais o município nas minhas viagens a passeio, ou mesmo nas minhas atividades militantes político-social.
Nisso, Cotaxé passou a ser uma constante na minha vida, por todo o meu interesse pela história deste lugar, que está refletido em vários trabalhos meus. Nas nossas incursões à Cotaxé, acabávamos incluindo Imburana, por onde, obrigatoriamente, tínhamos que passar e fizemos boas amizades, entre essas destaco, a com a nossa saudosa dona Natalina.
Em seguida veio Santa Luzia do Norte, muito em função da capoeira que ali se pratica. Itapeba, pelos movimentos gerados no período de carnaval e também por ser mais um de nossos distritos, por onde passa o braço norte do Rio Cricaré, ou do São Mateus, como queiram. Prata dos Baianos, em função da Roubada da Bandeira.
A partir dos seminários estes movimentos se intensificaram, pois a maioria destes locais citados, acabaram entrando nas nossas programações, Imburana, em função da Dança da Fita. Em alguns casos os visitamos, em outros, os recebemos em Cotaxé, para fazer as suas apresentações.
Muritiba foi incluída em nossas visitas, quando no primeiro seminário, levamos os nossos participantes para conhecer o assentamento rural Lírio dos Vales, no entorno daquele distrito. Além disso, compramos alguns itens de nossa alimentação e também recebemos doações de alguns produtores, que haviam recebido os seus lotes.
No segundo e terceiro seminários (2014 e 2015), visitamos o acampamento Derly Casaly, do MST, próximo à sede do município, o que gerou comoção em algumas pessoas, muito delas, viram aquela realidade de perto pela primeira vez na vida. Infelizmente, este acampamento perdura por lá até hoje, pois as respostas àqueles e àquelas que pretendem ter um pedacinho de terra para cultivar, demora muito, em muitos casos, uma vida inteira.
Incluímos ainda a Folia de Reis da divisa do Córrego do Peixe Branco, que vieram até Prata dos Baianos, quando dois ônibus de Cotaxé saíram lotados com alguns de seus moradores e nossos visitantes. Na oportunidade, tiveram a oportunidade de conhecer um pouquinho também, a Roubada da Bandeira. Como atividade do seminário realizamos a Primeira Caminhada Ecológica do Dois de Setembro, em 2018, quando fomos recebidos pelo senhor Selé, bem na cabeceira do rio, que foi percorrido em vários de seus trechos, por três dias seguidos.
O nosso último seminário aconteceu no finalzinho de 2021, mas todo aquele trabalho, as relações que criamos, ficaram mantidas e hoje morando no município, consigo acompanhar e me envolver ainda mais de perto, com tudo aquilo que pretendemos continuar expandindo, que é a valorização dos nossos recursos naturais, da nossa história e do bem estar da nossa gente, humilde e trabalhadora.
A última novidade que tive, mais recente, desta busca incessante que faço, para conhecer o nosso município – bastante extenso - até os seus confins, aconteceu com a companhia da minha sobrinha Rayane e o seu companheiro Lucas, que vieram de Curitiba e ficaram por aqui, entre o final do ano passado e início de janeiro.
Fizemos um roteiro, que venho deslumbrando a algum tempo, que é aquele que se inicia na matinha do nosso famoso Jequitibá Rosa, passa pelo Rio do Campo (Barra de São Francisco) e nos leva ao Patrimônio do Dois. Em vários trechos passamos por Barra de São Francisco, na Cachoeira do Zé Pão, inclusive – indicada pelo amigo Ezequiel – que aproveitamos bastante.
No caminho temos a oportunidade de ver alguns fragmentos de matas, montanhas, cachoeiras, pequenas propriedades, muitas casas à beira do caminho. Esta é uma região de maior altitude, de muitas nascentes de rios, que vertem para Água Doce e Barra de São Francisco, como também para o nosso lado, como é o caso do rio Osvaldo Cruz e o próprio Dois de Setembro. Portanto, esta é uma região que nos chama muito atenção e merece todo o nosso cuidado.
Na descida do Patrimônio do Dois, em direção à sede da cidade, entendido como outro roteiro, pelo fato de o ter conhecido antes, passamos pela Cachoeira do Arco-íris e a do Aloisão. Juntando os dois em um só, pense então num roteiro fantástico para desenvolver atividades ligadas ao setor de agroturismo ambiental.
Por último, deixo para falar da matinha no nosso famoso Jequitibá Rosa, onde demarquei o início de nossa viagem, que segundo a bióloga, nossa amiga Ivani Damasceno, é o que nos restou de Mata Atlântica primária, em todo nosso município.
Com toda certeza, é imprescindível tornar aquela matinha numa Unidade de Conservação, com a intervenção direta do poder público municipal, buscando as parcerias possíveis e necessárias, para se ter um melhor controle das visitações àquele espaço, e mais do que isso, investir num ambiente de educação ambiental, que muito faz falta, em todo este Noroeste, devastado pelo desmatamento sem nenhum limite.
São essas andanças que me levam a sonhar com tantas coisas que poderíamos fazer em prol do nosso lugar, integrando cultura, meio ambiente, turismo, esportes radicais, culinária, numa visão mais sistémica e integrada e assim podermos produzir os Ecos interessantes desta bela, linda e formosa terra, que são significados tão precisos do nosso Poranga.
Mín. 20° Máx. 33°