Tesouros de nossa terra

No domingo, que antecipou o carnaval de 2025, juntamente com o Ezequiel e Warley, ou Ley, saí para fazer uma das coisas que mais gosto em nossa cidade, que é visitar as nossas cachoeiras e neste caso, mais do que isso, conhecer mais duas, com alguns ingredientes diferenciados, para tornar esta experiência ainda mais especial, a começar pelos amigos que estavam presentes. Posso dizer que os dois, não deixam se ser crias dos Seminários das Humanidades de Cotaxé.

Fiquei muito próximo do Ezequiel, desde que nos conhecemos e sempre que podemos trocamos ideias, fazemos coisas juntos, idealizamos projetos para o nosso município. Aliás, eu costumo brincar, que no meu livro “Cabritagens, Desassombros e Algumas Ternuras”, eu o escrevo em primeira pessoa, mas o meu mano Geraldinho não deixa de ser a segunda. Já nestes textos para minha coluna, que pretendo transformar também em livro, a segunda pessoa sem dúvida alguma é o Ezequiel.

Já o nosso amigo Ley, eu o reencontrei, no encerramento do Boi Janeiro, em 25 de janeiro deste ano, quando coube a ele me lembrar que fazia parte daquele grupo de jovens que chegaram de Ecoporanga no IV seminário, 2016, com instrumentos e se identificaram como integrantes da banda Eco Reggae e nós da comissão organizadora, o incluímos na programação, assim que eles manifestaram interesse de participarem. Já no seminário do ano seguinte, eles participaram e se fizeram constar em nosso material de divulgação de maneira programada.

O legal é que eles se integraram mesmo e hoje fico muito feliz de reencontrar boa parte desta turma frequentando Cotaxé, como pude verificar na terça-feira do carnaval deste ano, quando já nem havia mais aquele clima de festa, pois os shows musicais aconteceram somente no sábado e domingo. Mas neste dia de feriado tranquilo, encontrei daquela turma, o Kid, o Amós e o próprio Ley, com mais alguns amigos e uma amiga, tomando cerveja em frente ao bar do Gô, depois de ter passado parte da tarde tomando banho de rio.

Antes de seguir adiante para falar das cachoeiras que conheci, eu não podia deixar de falar dessa galera, que foi uma das surpresas mais agradáveis que tivemos em todos os nossos seminários, tanto assim, que a presença e a participação deles continuam reverberando na fase atual de nosso trabalho.

As cachoeiras em questão são as dos Sumidouros e do Senhor Pretinho, que ficam no Córrego do Café, no sentido ao povoado de Santa Rita, próximo as voçorocas, que estamos chamando também de falésias, causadas pela ação humana, no trecho inacabado da BR-342, paralisada desde 2001, na sua parte mais degradada. Justamente nesta parte de degradação mais aguda, tem uma entradinha à esquerda, que dá acesso à parte de cima da Cachoeira dos Sumidouros, antes da queda no grande paredão de rocha. Já a segunda, o do Senhor Pretinho, fica logo após ao trecho descrito, numa entrada do lado esquerdo também, no término dos dois barrancos, que margeiam a estrada.

Passamos pela Cachoeira dos Sumidouros, muito mais pela minha curiosidade de conhecê-la, pois ela não é indicada para banho, justamente pelo fato de abrigar os perigosos buracos nas rochas de seu leito, que podem fazer vítimas fatais. Por isso, até chegarmos bem próximo ao despenhadeiro, evitamos de passar dentro dos poços, que não enxergamos bem o fundo, para evitar alguma tragédia, até porque as águas são um pouco turvas, o que dificulta também a visibilidade. Num pequeno trecho bem acidentado, passamos agarrados em cipós bastante grossos. Por causa desta sua especificidade, acredito que o nome que mais lhe faça sentido é justamente Cachoeira dos Sumidouros, que tem sido utilizada pela prática de rapel.

Depois de matar esta primeira curiosidade, seguimos para a Cachoeira do Senhor Pretinho, que tem uma primeira queda maior, muito linda, formando logo abaixo, um poço bem legal, que é indicado somente para quem sabe nadar. Descendo mais um pouco, encontramos vários poços, uns mais rasos e outros mais fundos, sobre a rocha, o que permite atender a todos e todas, que queira se banhar numa água quentinha nestes dias mais ensolarados. É uma cachoeira muito convidativa, eu diria até mesmo, inclusiva, que me encantou bastante.

Mas além desta cachoeira, nos encantam também o senhor Pretinho e sua esposa dona Ana Amélia, que nos recebem superbem. Ele fez questão de nos apresentar o seu forno manual, onde torra o café Catuaí, adquirido nas serras de Santo Agostinho, no vizinho município de Água Doce do Norte, que ele vende moído. Mostrou também o pilão utilizado para transformar os grãos torrados em pó, que são de muita qualidade. O senhor Pretinho faz questão de deixá-los expostos para serem vistos e conferidos. Além do café, ele vende farinha de mandioca, produzida também em família. Me apresentou o outro forno, o de torrar a mandioca ralada. Se percebe muito amor e muita qualidade no que é produzido. O que é vendido é também saboreado por eles.

As duas cachoeiras visitados, ficam na fazendo do senhor Zizi, que infelizmente não o encontramos em casa, pois seria a oportunidade para conhecer o paredão de rocha da Cachoeira dos Sumidouros pelo lado de baixo, mas que depende da sua permissão de acesso, que acaba sendo feito pelo quintal. Nesta parte, ela fica totalmente interditada, justamente pelos riscos descritos anteriormente, pois há relatos de pessoas que desapareceram nos tais sumidouros.

Gostei tanto desta experiência, que numa semana depois, levei minha sobrinha Sofia e o Vitor, seu namorado, para conhecer também os locais visitados, com a participação do Ezequiel, pra variar, que chegou quando já estávamos para nos despedir do senhor Pretinho e dona Ana Amélia, que mais uma vez, nos serviu água e aquele cafezinho feito na hora. Em mais esta oportunidade, o Ezequiel nos conduziu, à frente, de moto, por um roteiro que nos levou até a belíssima cachoeira do Arco-íris, que conheço a um bom tempo, visitei por várias vezes e também já escrevi a respeito dela e, portanto, não vou entrar em maiores detalhes, porém recomendo a quem ainda não a conhece, trate de conhecê-la o quanto antes e aproveite bastante este templo da natureza.

A nossa ideia é justamente falar dessas belezas todas que encontramos em nosso imenso município, que pode gerar renda, qualidade de vida, fortalecer o turismo, desde que seja dado o cuidado, a valorização merecida - com diálogo entre o poder público municipal, através de seus órgãos competentes; os proprietários das terras, onde situam estes tesouros; sociedade civil organizada, através de seus conselhos representativos; empresários do setor de transporte e hoteleiro - e esses locais sejam assim melhores aproveitados, ao tomar todas as providências necessárias, para mantê-los conservados e limpos, fortalecendo um setor, que pode inclusive ajudar a reverter o nosso passivo ambiental, que não é nada pequeno.