Desta vez, vou aproveitar este espaço, para falar de duas pessoas muito especiais daqui de Cotaxé, que infelizmente, tiveram as suas vidas abreviadas, quando chocaram com a moto que estavam num outro veículo, mais precisamente um carro, ao retornar de Ponto Belo. Estou falando do casal, Aguinaldo e Joelma.
As vítimas deste acidente eram ainda bem jovens e isso nos leva a termos a impressão de que foram antes da hora. A verdade é que aceitamos mais fácil a morte daqueles que viveram toda uma vida e entendemos que cumpriram todos os seus ciclos neste mundo. Além disso, estou falando de seres humanos fora do comum, prestativos, amorosos, animados e eu particularmente os tinha como grandes parceiros.
A contribuição deles era certa, no que dizia respeito aos nossos Seminários das Humanidades, nas reuniões, equipe da cozinha e churrasco e onde mais pudessem colaborar. Junto com eles se somavam os dois filhos; a Letícia, ainda muito nova, que inclusive nos presenteou com um lindo poema publicado no livro que organizei, “Palavras do Cotaxé”; e o Arthur, que no último seminário, de 2021, nos deu suporte como assistente de filmagem.
O Silmar, irmão da Joelma, era outro que se somava à equipe do churrasco, que não deixava de atender um público considerável. No geral, estas contribuições eram dadas de maneira voluntária, assim como a de tantos outros companheiros e companheiras, que estarão aqui representados de alguma maneira, por este casal e seus familiares.
Na última vez que participaram de uma reunião conosco, eles nos disseram que quando estavam em casa e não havia nenhum compromisso, costumavam ficar assistindo os vídeos de nossas atividades disponíveis no Youtube. Se percebia o prazer que eles sentiam em compartilhar esta experiência, que era mais uma forma de valorizar algo, do qual eles faziam parte.
Por isso, quando o Júnior, este outro grande parceiro, me ligou em lástimas, dando notícias daquela tragédia, que havia desabado como uma bomba sobre todos nós, para além do meu choro, da minha tristeza, eu queria pensar muito mais no quanto o Aguinaldo e a Joelma foram lindos, simples, generosos, e tudo que eles fizeram e poderão continuar fazendo por nós, espero, até com mais força, no outro lado da vida.
Dona Rosa, mãe da Joelma, que conheci logo após eu ter chegado de mudança em Cotaxé, me disse em sua casa, que não tem um único dia que não se lembra da filha. No primeiro de setembro último, eu a acompanhei até a igreja católica, a partir de um certo trecho, quando fomos assistir a missa de domingo à noite e nesta ocasião ela fez questão de me dizer, que sua filha estaria comemorando aniversário se não estivesse debaixo da terra.
Quero dizer à dona Rosa, ainda que eu não possa diminuir a sua dor, que é dor de mãe, pelo que aconteceu. Ela pode lembrar e falar tranquilamente da sua amada filha e do Aguinaldo com todo orgulho e que isso possa lhe trazer algum alento, ou até mesmo alguma alegria e que os dois junto à terra que os recebeu, possam ser sementes que germinam, cresçam, dê frutos e novas sementes e continuam contribuindo na construção uma sociedade melhor, mais justa, solidária e mais humana, que eles estavam comprometidos a construir nesta vida.
Juntos, sempre juntos, e não foi diferente na hora da partida e isso parece nos dizer muito a respeito deste casal, que nos ensinam o amor, o respeito, o companheirismo, na prática cotidiana, sem a necessidade de verbalizar. Eles ilustram o que é esse ser “um só corpo e um só espírito” e sendo iluminados como são, que continuem nos inspirando e dando força, inclusive para aceitarmos aquilo que não depende de nós e assim, sejamos capazes de superar a dor e o sofrimento a que estamos sujeitos em situações como estas, que nem sempre estamos em condições de entender.
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