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Para Fortalecer a Comunidade de Cotaxé

“Uma coisa, que sempre me chamou atenção em Cotaxé é a animação que os seus moradores demonstram nas várias atividades culturais que participam”.

26/09/2024 às 19h16 Atualizada em 11/10/2024 às 19h41
Por: Vander Costa
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 Vista do distrito de Cotaxé em Ecoporanga (Foto: Roberto Carlos Da Silva/Arquivo/Reprodução proibida)
Vista do distrito de Cotaxé em Ecoporanga (Foto: Roberto Carlos Da Silva/Arquivo/Reprodução proibida)

Quando pretendemos fortalecer uma comunidade, devemos pensar qual é a cultura, ou movimentos culturais que devemos investir. Neste caso, acredito que seja interessante identificarmos aquilo que tenha a ver com as pessoas, as histórias que as marcam, o mundo pelo qual elas estão inseridas, tudo aquilo que as mobilizam de fato e as levam a concretizar algo que esteja para além de uma realização única e exclusivamente pessoal, proporcionando assim, aquela felicidade que é de todas e todos, geradora daquilo que chamamos de coesão social e também de pertencimento.      

Uma coisa, que sempre me chamou atenção em Cotaxé é a animação que os seus moradores demonstram nas várias atividades culturais que eles participam e se empenham em fazer da melhor forma possível, mas agora, integrado à comunidade, percebo bem mais. São as festas de carnaval e juninas, as cavalgadas, os forrós, o futebol dos homens e das mulheres, as confraternizações nos botecos, a adesão aos bingos, que são feitos para viabilizar algum destes momentos.

Duas outras manifestações culturais que me chamaram atenção foi a banda marcial “Banda Xé”, (que ainda pode quem sabe, ser o embrião para criação de um bloco de carnaval, com apresentação de marchinhas que respeitam e proporcionam o respeito e a valorização da diversidade humana, e, portanto, cultural) e o “Boi Janeiro”. As duas foram criadas pelo Mestre Arlindo. A primeira, normalmente se apresentava nos desfiles de 7 de setembro em Cotaxé, ou em outros lugares do município quando requisitada noutras ocasiões. Ela chegou participar do nosso seminário de 2015.

Os trabalhos de ensaios e preparação da banda acabava ficando a cargo da escola de ensino fundamental do distrito, sob a responsabilidade da então diretora Marizete, e que contava com a participação de muito alunos e alunas. Depois que ela saiu e se aposentou a escola tirou isso da sua responsabilidade, por entender que não fazia parte de suas atribuições e com isso a Banda Xé encerrou as suas atividades e os instrumentos se encontram lá adormecidos em uma de suas repartições.

Já faz um bom tempo que o Boi Janeiro também não se apresenta. Estamos nos preparando para retomá-lo no início do próximo ano. Este folguedo com suas folias é apresentado em todo mês de janeiro em alguns dias de todas as semanas, visitando casas, outros distritos, recebendo doações, que são utilizadas na festa de encerramento, quando se mata simbolicamente o boi da brincadeira e o reparte para todos os presentes, o que representa bem o espírito comunitarista desta comunidade, que estou tendo a grande oportunidade de vivenciar, como mais um de seus membros.

Mas para ter tudo isso, tem que ter uma história que conta e que precisa ser contada muito mais. Neste momento estamos nos preparando para estrearmos em 30 de setembro de 2024, às 19h, na Lanchonete do Ton Ton, com a exibição do filme “Narradores de Javé”, através do Cineclube Contestado, nosso “Cinema Alternativo”. Depois disso, pretendemos seguir com as nossas sessões a cada 14 dias.

Com essa iniciativa, entre outras coisas, pretendemos trazer algumas produções cinematográficas, que nos proporcionem subsídios, para entendermos as nossas histórias locais nas suas mais diversas narrativas, sejam elas em ficção, ou documentário. Inclusive pretendemos exibir trabalhos produzidos em nosso município, como é o caso do “Cotaxé – O Efêmero Estado União de Jeovah” e sobre a “Roubada da Bandeira”, de Prata dos Baianos.

Mas voltando a falar desta história que precisa ser muito mais contada – muito ligada à luta pela posse da terra dos camponeses posseiros e seus familiares - é porque ela marca de uma maneira muito profunda a comunidade de Cotaxé, que para se defender de investidas de pessoas poderosas, desenvolveu laços muito fortes de cooperação e solidariedade, que subsiste até os dias de hoje, mesmo com todo o apagamento histórico tão comum em situações como estas Brasil afora.

É imprescindível que se tenha em Cotaxé um museu, que engrandeça a luta deste povo e ele possa se orgulhar cada vez mais de sua história e de seu modo de vida, ainda mais que Cotaxé, através de sua humilde gente, já nos deu muito, com seu exemplo de organização, bravura e dignidade. É certo que pode oferecer muito mais, mas é importante retribuirmos por este legado tão importante, com todo o nosso apoio, que se faz necessário e que isso possa inspirar outras iniciativas, que tenham os mesmos propósitos libertários.       

Uma associação forte, representativa, é outro passo importante, para fortalecer parcerias, resgatar algumas atividades, dar abrigo a muito delas, que poderão ser estruturados em projetos consistentes, de modo que não se fique tão dependente do poder público, pois diretores de escola, secretários, prefeitos e outros cargos do executivo mudam e mesmo que estas mudanças tragam interrupções, a comunidade fortalecida, com autonomia, seja capaz de levá-los adiante, ou até mesmo evitar os retrocessos previsíveis, de governos pouco comprometidos com o bem estar das pessoas mais simples, que tanto tem a nos ensinar.  

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gilsonHá 6 meses Vila Velha, ESParabéns, Vander. Belo trabalho.
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Memórias e Provocações
Sobre o blog/coluna
Vander Antônio Costa é bacharel-licenciado em filosofia pela Ufes. Publicou seis livros autorais. Um destes está disponível na internet, “Bota Fé”, que fala sobre seu álbum musical, com mesmo título. Organizou o livro “Palavras do Cotaxé”, com vários autores e autoras. Coordenou a realização dos seis Seminários das Humanidades em Cotaxé, onde foi criado um Ponto de Memória em 2021, através de edital da Secult-ES.


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